Não seja radical, deixe-me mata-lo

Uma das técnicas mais básicas, simples e eficazes da negociação consiste em etiquetar o outro de radical. Você tem clareza do que quer mas para chegar a seu objetivo inicia com um pedido irreal. Como o outro lado evidentemente dirá não você vai costurando o acordo até chegar a seu objetivo.

Já vi muito isso em processo, a pessoa pede 50 para, em acordo, parecer razoável e aceitar 10. Quando a outra parte não aceita pagar os 10 o proponente tenta fazer o outro parecer radical.

Eu tenho verdadeira ojeriza a este tipo de técnica. Parece muito com aquele sujeito que diz: escuta, deixa eu te matar? Não seja radical, vai, deixa eu te matar? Olha, vamos fazer o seguinte, eu fico apenas com seu braço ok? Aí fica em um meio termo razoável.

Esticar a régua para fazer o outro parecer radical é um truque utilizado com frequência também no mundo político.

Quando o governante de plantão deseja algo, o que ele faz? Estica a régua ao máximo e quem se opõe ao meio termo por ele proposto depois é taxado de radical. Não se engane amigo, quando você concorda com o político neste meio termo, você corre o risco de concordar em dar seu braço a ele.

Ponderações sobre a flexibilização da posse de armas

Há várias pessoas discutindo sobre o novo decreto presidencial que flexibiliza a posse de armas de fogo em casa. Gostaria de abordar dois aspectos que até o momento não vi ninguém abordar.

Li dois argumentos: a) ninguém é obrigado a ter armas de fogo, logo quem não quer ter basta não comprar e b) o aumento nos crimes praticados no país prova que o desarmamento falhou.

Quanto ao primeiro argumento há uma falsa simetria com outros temas como é o caso do casamento gay. Dizem assim: “você não é obrigado a se casar com pessoa do mesmo sexo, logo respeite os demais”.

Como eu disse trata-se de falsa simetria. Quando alguém se casa com outra pessoa do mesmo sexo, isso nem de longe pode me afetar. Diz unicamente com estas duas pessoas.

Quando alguém tem armas em casa isso pode sim me afetar. Com esta arma em casa, inúmeras outras pessoas podem ser afetadas, seja pelo mau uso dela seja até mesmo pelo seu furto e uso pelo bandido futuramente contra mim.

Quanto ao  segundo argumento ele parte de premissa de que é responsabilidade do indivíduo a segurança pública. Não é!

A responsabilidade pela segurança pública é do Estado e não do indivíduo. Dizer que o aumento da criminalidade é a prova de que o estatuto do desarmamento falhou parte da premissa de que cabe ao indivíduo se armar e combater o crime.

Na verdade o aumento da criminalidade prova que todas nossas políticas contra o crime não tem dado muito certo e precisamos repensar nossa estratégia.